Caro Jair, Conheces essa estória do saudoso Aldírio Simões:
A cabrinha apaixonada
]Quando o pai chegou em casa com a cabrinha, que havia trocado por tainhas escaladas no Córrego Grande, o filho encantou-se com o belo animalzinho. Depois de uma rápida troca de olhares, o afago do manezinho correndo a mão nas costas da bichinha, atitude que ela correspondeu arrepiando os pêlos e um berro em forma de suspiro, surgiu naquele momento algo em comum entre os dois, um recíproco amor a primeira vista. O garoto dedicava todo o seu tempo livre para cuidar da cabrita, ambos brincando de esconder nas dunas da Lagoa, nos passeios à deserta praia da Joaquina, reservando para ela os ramos mais novos de espinheiros e os sabugos mais tenros e milho, ração preferida de Bitinha, apelido carinhoso que recebeu de seu dono. A mãe reclamava constantemente do excesso de zelo do rapaz, ele costumava banhá-la nas águas da fonte com o sabonete Eucalol destinado ao banho geral da família aos sábados. Antigamente no interior da Ilha a higiene diária das pessoas resumia-se em lavar os pés na gamela antes de dormir e as mulheres apenas jogavam água do sexo. Banho geral mesmo somente aos sábados. "Rapagi larga essa cabrita. Lava os pés e cama", ralhava o pai chateado com as frescuras entre os dois. E de tanto tomar banho frio na fonte, Bitinha acabou ficando "constipada", acordava a família na madrugada com intermináveis espirros que deixavam o velho furioso, e decidiu que no dia seguinte ela dormiria no engenho com os outros animais e não na cozinha da casa como vinha ocorrendo. Dazo ainda tentou demover o pai de tamanha crueldade mas não conseguiu convencê-lo. Nas frias madrugadas de inverno ele saía da cama, pé por pé, e passava horas no engenho dormindo com a cabrita. Com o decorrer do tempo a mãe chamou atenção do marido sobre a excessiva palidez do garoto. O pai, acumulando grande experiência de vida, trabalhando durante anos na pesca na praia do Cassino, no Rio Grande do Sul, que lhe rendeu uma venda na Lagoa e uma carroça para revender peixe, há muito andava desconfiado da intimidade do filho com a cabrinha. Desconfiança aliás que caiu na boca da vizinhança, passando a chamar o garoto de Dazo da Bitinha, para desespero da mãe. O pai passou a seguir os passos do filho, queria certificar-se do que andava imaginando. Com uma vara na mão afugentava a Bitinha que insistia em seguir Dazo até a escola. "Essa cabra anda com a pá virada, anda viciada em alguma coisa, " reclamava ele para a mulher. Decidido então a colocar fim naquele suposto romance, determinou que o garoto o acompanhasse nas viagens até a cidade, levando a carroça carregada de peixe para vender às quartas-feiras no Mercado Público. Dazo da Bitinha cresceu e a cabrinha também, mas o relacionamento já não era mesmo, embora ela continuasse com o ciúme doentio, chifrando as meninas que dele se aproximavam, ou seja, começou a criar problemas. A gota d'água foi quando Bitinha invadiu um baile na capela da Lagoa durante os festejos de Nossa Senhora da Conceição, aos berros, protestando contra a atitude do amante que rodopiava com a namorada no salão. Sentiu-se traída e estava determinada a rodar a baiana, fazer um escândalo. Mas foi sensata, decidiu então fazer cocô no meio o salão e saiu porta afora rebolando, com a platéia escancarada em risos. "Dazo um banho," inticavam seus amigos. Aquela atitude pegou muito mal, Dazo foi imediatamente abandonado pela primeira namorada que não aceitou a concorrência com Bitinha. O pai mandou Dezo estudar na cidade, morar numa casa de uma família amiga. Bitinha não se deu por vencida. Esperava ansiosamente o sábado chegar para aguardar Dazo descer do ônibus com um festival de berros. Mas o sentimento do jovem já não era o mesmo.
Por isso a expressão "dax um banho". Eu tenho dois livros do Aldírio, estórias e histórias muito hilárias! Abraços!
Limerique
ResponderExcluirBem aventurado aquele vate
Que no capril arruma um biscate
São as tais cabrinhas
Que não andam na linha
Que vão batalhar o bom combate.
ahhh mas estas são zen...
ResponderExcluirhttp://tvig.ig.com.br/variedades/mundo-animal/cabritas-massagistas-relaxam-agricultor-veja--8a498026358bac69013590cf0a7800a7.html
Cabritas por toda a parte.Parabéns.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirEra uma vez cabrita virtuosa
Que não queria gente pegajosa
Mas o vate era só paixão
E a cabritinha dizia não
Se tornou relação tumultuosa.
Caro Jair,
ExcluirConheces essa estória do saudoso Aldírio Simões:
A cabrinha apaixonada
]Quando o pai chegou em casa com a cabrinha, que havia trocado por tainhas escaladas no Córrego Grande, o filho encantou-se com o belo animalzinho. Depois de uma rápida troca de olhares, o afago do manezinho correndo a mão nas costas da bichinha, atitude que ela correspondeu arrepiando os pêlos e um berro em forma de suspiro, surgiu naquele momento algo em comum entre os dois, um recíproco amor a primeira vista.
O garoto dedicava todo o seu tempo livre para cuidar da cabrita, ambos brincando de esconder nas dunas da Lagoa, nos passeios à deserta praia da Joaquina, reservando para ela os ramos mais novos de espinheiros e os sabugos mais tenros e milho, ração preferida de Bitinha, apelido carinhoso que recebeu de seu dono. A mãe reclamava constantemente do excesso de zelo do rapaz, ele costumava banhá-la nas águas da fonte com o sabonete Eucalol destinado ao banho geral da família aos sábados.
Antigamente no interior da Ilha a higiene diária das pessoas resumia-se em lavar os pés na gamela antes de dormir e as mulheres apenas jogavam água do sexo. Banho geral mesmo somente aos sábados. "Rapagi larga essa cabrita. Lava os pés e cama", ralhava o pai chateado com as frescuras entre os dois.
E de tanto tomar banho frio na fonte, Bitinha acabou ficando "constipada", acordava a família na madrugada com intermináveis espirros que deixavam o velho furioso, e decidiu que no dia seguinte ela dormiria no engenho com os outros animais e não na cozinha da casa como vinha ocorrendo.
Dazo ainda tentou demover o pai de tamanha crueldade mas não conseguiu convencê-lo. Nas frias madrugadas de inverno ele saía da cama, pé por pé, e passava horas no engenho dormindo com a cabrita. Com o decorrer do tempo a mãe chamou atenção do marido sobre a excessiva palidez do garoto. O pai, acumulando grande experiência de vida, trabalhando durante anos na pesca na praia do Cassino, no Rio Grande do Sul, que lhe rendeu uma venda na Lagoa e uma carroça para revender peixe, há muito andava desconfiado da intimidade do filho com a cabrinha.
Desconfiança aliás que caiu na boca da vizinhança, passando a chamar o garoto de Dazo da Bitinha, para desespero da mãe. O pai passou a seguir os passos do filho, queria certificar-se do que andava imaginando. Com uma vara na mão afugentava a Bitinha que insistia em seguir Dazo até a escola. "Essa cabra anda com a pá virada, anda viciada em alguma coisa, " reclamava ele para a mulher. Decidido então a colocar fim naquele suposto romance, determinou que o garoto o acompanhasse nas viagens até a cidade, levando a carroça carregada de peixe para vender às quartas-feiras no Mercado Público.
Dazo da Bitinha cresceu e a cabrinha também, mas o relacionamento já não era mesmo, embora ela continuasse com o ciúme doentio, chifrando as meninas que dele se aproximavam, ou seja, começou a criar problemas. A gota d'água foi quando Bitinha invadiu um baile na capela da Lagoa durante os festejos de Nossa Senhora da Conceição, aos berros, protestando contra a atitude do amante que rodopiava com a namorada no salão. Sentiu-se traída e estava determinada a rodar a baiana, fazer um escândalo. Mas foi sensata, decidiu então fazer cocô no meio o salão e saiu porta afora rebolando, com a platéia escancarada em risos.
"Dazo um banho," inticavam seus amigos. Aquela atitude pegou muito mal, Dazo foi imediatamente abandonado pela primeira namorada que não aceitou a concorrência com Bitinha. O pai mandou Dezo estudar na cidade, morar numa casa de uma família amiga. Bitinha não se deu por vencida. Esperava ansiosamente o sábado chegar para aguardar Dazo descer do ônibus com um festival de berros. Mas o sentimento do jovem já não era o mesmo.
Por isso a expressão "dax um banho".
Eu tenho dois livros do Aldírio, estórias e histórias muito hilárias!
Abraços!